quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Cine Éden

O Cinema Éden foi a mais longeva sala de cinema de Niterói. Inaugurada como Éden-Cinema em 1911, era a mais importante sala de espetáculo de palco e tela (cinema e teatro) da década de 1910, dividindo a preferência do público com o Cinema Royal (destruído com a abertura da Avenida Amaral Peixoto nos anos 1940). A sala fechou em 1920, sendo reaberta após reformas em 1921, sempre no endereço da Av. Visconde de Rio Branco, 295.
Após a abertura de cinemas maiores e mais luxuosos no centro da cidade como o Imperial e Odeon, e depois em bairros como Icaraí e Fonseca, o Éden continuou funcionando, mas perdeu prestígio.
foto do jornal O Fluminense, em 25 novembro de 1980.
A partir dos anos 1950 e 1960, seria conhecido como um "poeira". Nos anos 1970 ainda tinha poltronas de madeira e funcionava apenas com ventiladores. É desse tempo a lembrança que muitos moradores ainda possuem do Cine Éden. Ao longo dessas décadas, fechou e reabriu muitas vezes, e sua lotação variou de 600 a 900 lugares. Em 1980, o cinema encerrou suas atividades definitivamente, sendo anunciado que passaria a funcionar naquele lugar um supermercado. Era então o destino da maioria das grandes salas de rua de Niterói, como o Mandaro e São Jorge.
O Éden, como os demais cinemas da Avenida Visconde de Rio Branco (a versão niteroiense da Avenida Central - depois Rio Branco - do Rio de Janeiro), sofreu com a degradação do centro da cidade. Desde os anos 1960 já eram comuns reclamações sobre a sujeira, o engarrafamento e a desordem urbana (camelôs, assaltos, poluição sonora e visual etc.) em seu entorno. O trânsito pesado dificultava e atrapalhava os frequentadores, enquanto se tornava cada vez menos prazeroso andar a pé pelo centro da cidade.
Abaixo, duas fotos mostram o passado e o presente do cinema. À direita o Cine Éden em funcionamento no início dos anos 1960, destacando em sua fachada a modernidade do "CinemaScope". Quase impedindo a visão do cinema os bondes que Niterói ainda mantinha, mas que logo sairiam de circulação.
Na foto da esquerda, o local onde funcionava o Cinema Éden em 2013, hoje uma papelaria.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O Cine Niterói (ex-Cinema Odeon)

Loja vizinha

Inaugurado em 1934, o Cinema Odeon de Niterói - em homenagem ao exibidor Francisco Serrador, que criara o Cinema Odeon carioca, em 1926 - foi o primeiro "palácio de cinema" moderno em Niterói, inaugurando os cinemas em art deco na cidade.
Era o maior cinema da cidade e permaneceu sendo uma das principais salas de exibição de Niterói. Décadas mais tarde, já incorporada ao circuito Severiano Ribeiro, após anos sendo chamada de "Odeon-Niterói", a sala definitivamente trocou de nome para "Cine Niterói". Entretanto, há resquícios do antigo nome do cinema como ponto de referência local, por exemplo, no comércio vizinho à sala, como uma pequena loja de fotografia.

Cinema Niterói no início dos anos 1980
Como relatei em meu livro "Cinematographo em Nictheroy" (p. 230), a sala foi fechada em dezembro de 1997 e os jornais da época publicaram melancólicas fotos da retirada das poltronas do cinema.
Como uma das mais antigas edificações daquele trecho da Rua Visconde de Rio Branco, o Cine Niterói era afastado da calçada, possuindo um pátio frontal, descoberto, onde ficavam as filas para a bilheteria. Posteriormente (quando o centro deixou de ser um endereço nobre de Niterói) foi colocado um muro gradeado na entrada do terreno, contendo o letreiro com o título do filme, dos atores, a censura e os horários das sessões. 

Visão geral do belo prédio art deco
Entrada do cinema por volta de 1997

Ainda nos anos 1970, havia planos de ocupar aquele espaço "vazio" à frente do cinema com um prédio comercial semelhante aos que vinham sendo construídos nos terrenos ao lado da sala de exibição. 
Logo após o fim do uso do espaço como cinema, o prédio foi ocupado por uma loja de tecidos que manteve a estrutura intacta. 
Posteriormente, porém, o prédio deu lugar a lojas populares que criaram uma estrutura feia e precária que dava continuidade ao prédio principal e chegava até a marquise sob a calçada, alongando o espaço comercial.
O antigo cinema hoje
Curiosamente, ainda é possível ver, de longe, a parte de cima do cinema, isto é, do prédio original (de cor bege), mais alto que a nova estrutura pintada de roxo.
Nas fotos abaixo, tiradas em 2013 do outro lado da Visconde de Rio Branco (quase na calçada do Shopping Bay Market), é possível vislumbrar o telhado e parte do segundo pavimento do antigo cinema.





Entretanto, embora poucos notem, dentro da loja a arquitetura do cinema ainda é visível, mesmo que através de rastros hoje mascarados.
A entrada da loja, que ocupou o antigo pátio ao ar livre do cinema
Com o "puxadinho" a loja ficou bastante profunda, mas indo até o final dela, percebemos que estamos dentro da antiga plateia do cinema. Se olhamos para frente vemos onde ficava a tela. Ao fundo, hoje vazada, a a estrutura original de 1934 para as telas menores e mais quadradas de então (1:1,37). Mais a frente, percebe-se a moldura construída nos anos 1950 para as maiores e mais retangulares telas panorâmicas. É a sala de cinema como um verdadeiro palimpsesto da história das tecnologias audiovisuais.
Onde ficava a tela do cinema, a antiga (quadrada) e moderna (panorâmica)

Olhando para trás, vemos onde ficava o balcão do cinema que chegou a ter mais de 2 mil lugares. Hoje, sem as poltronas, o balcão é ocupado por caixas de papelão, servindo de depósito de mercadorias.

Onde era o balcão do cinema.
 Outros detalhes chamam a atenção se conseguimos olhar por cima da iluminação de lâmpadas fluorescentes e a decoração de natal. Um antigo vitral de um lado, as pilastras e os espaços ocupados pelas caixas de som e saídas de ventilação de outro..
Decoração geométrica do antigo hall do cinema

parede lateral da sala com as saídas de ar-condicionado
Antigo hall do cinema onde ficavam as escadas para o balcão.



 Enfim, o Cine Niterói ainda existe. Enquanto ele continuar de pé, restará o sonho de que um dia ele possa voltar a ser o que ele foi construído para ser. Um espaço de sonhos.